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Com os “sete milhões” há muito empreendorismo e a vida melhorou

Data: 11/04/2017

É um facto que o Fundo de Desenvolvimento Distrital (FDD), vulgo ‘Sete Milhões’ mudou, para o melhor, a vida de muitos moçambicanos É notória a preocupação dos cidadãos de procurar fazer algo e, nisso há ousadia: abertura de bombas de combustível e fabriquetas, a prática da piscicultura, o aproveitamento das zonas baixas para a produção de hortícolas, batata-reno, entre outras actividades de geração de riqueza e bem-estar social. Todavia, é crucial reforçar os mecanismos de reembolso do valor, porque mutuários há que desaparecem ou morrem sem repor os empréstimos. Por exemplo, de 2007 a 2014, foram alocados pouco mais de 178 milhões de meticais, aos distritos de Panda, Homoíne e Inharrime, na província de Inhambane, cujo nível de reembolso foi cerca de 16 milhões de meticais.

Por: Brígida da Cruz Henrique

 

Há muita gente ousada e predisposta a melhorar as suas condições de vida e, por via disso, desenvolver Moçambique. O ‘Jornal Moçambique’ interagiu com os mu­tuários dos distritos de Homoíne, Panda, Inharrime e Morrumbene, naquela provín­cia do sul, onde os beneficiários dos ‘Sete Milhões’, tudo fazem para suprir as necessi­dades imprescindíveis dos cidadãos, colo­cando à disponibilidade produtos alimen­tares, utensílios de produção, combustível, entre outras iniciativas.

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Abílio Nhambau, do bairro Jacubecua, em Panda-Mudjequene, é mutuário do FDD desde 2011. Com 100 mil meticais can­didatou-se a criador de gado bovino e for­necedor de combustível ao distrito. Geriu devidamente os fundos e, em 2012, amorti­zou a dívida. Motivado com o negócio, em 2013 solicitou mais 300 mil meticais, para investir na construção civil e produção de blocos.

“Meu sonho é ter uma gasolineira abas­tecida a partir da fonte (PETROMOC-sede)”, explicou Nhambau, detalhando que os ‘Sete Milhões’ melhoraram as condições da sua família. “Já comprei um mini-bus, que faz ‘chapa’ Panda-Inhambane-Maxixe; mensalmente forneço seis mil litros de combustível ao distrito e quero aproveitar a oportunidade para agradecer ao Presi­dente da República, Armando Guebuza, pela iniciativa e apelar Filipe Nyusi, o can­didato às eleições presidenciais de 2014, que em Inhambane é tratado carinhosa­mente por ‘nhoshi’ ou ‘novidade’, continue a olhar para o distrito como o pólo de de­senvolvimento”.

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Em 2009, Beatriz Vilanculos recebeu doFundo de Desenvolvimento Distrital, 45 mil meticais, para a prática de comér­cio. Amortizou a dívida a 100 por cento. Diz ter-lhe sido difícil gerir os fundos, mas “apertei o cinto e consegui devolver 47 mil meticais. Mal recebi os fundos investi no negócio, vendendo produtos de primeira necessidade e ia pagando os impostos e a renda, pois ainda não tinha minha mini­-loja”.

A empreendedora de Panda-Mudje­quene já construiu uma mini-loja, cresce­ram as receitas, por isso, paga regularmen­te as propinas dos filhos, que têm aulas na cidade de Inhambane, ao mesmo tempo que está a construir uma casa usando ma­terial convencional.

Dado o acesso à energia eléctrica de Cahora Bassa, Beatriz Vilanculo, projecta alargar o seu negócio, fornecendo peixe, frango, bebidas e toda a gama de produ­tos que exigem conservação no sistema de frio.

 

Gestão dos ‘Sete Milhões’ exige disciplina

 

Além da poupança, Beatriz Vilanculo lucra 15 mil meticais, que garantem a re­posição dos produtos na sua mini-loja. “Os ‘Sete Milhões’ melhoraram a vida de muitos moçambicanos, e eu sou um deles. Sofri muito, sem ocupação, porque vie­mos transferidos de Maputo. Meu marido é funcionário do Estado e sobrevivíamos de salário, que pouco chegava. A prática de agricultura em Panda é inconsistente, devido ao clima árido. Mas foi preciso mui­ta disciplina na gestão de fundos, porque o mínimo deslize, o dinheiro voa e a repo­sição, é dolorosa”, alerta Beatriz Vilanculo.

Por seu turno, Manuel Guirungo quei­xa-se da falta de madeira para a prática de marcenaria, a ausência em Panda, de um banco comercial. “Meus potenciais clientes compram mobiliário na cidade da Maxixe, quando vão levantar os seus ordenados mensais, via banco. Com um banco de cré­dito, o negócio iria melhorar substancial­mente, como cresceria o caudal de negó­cios e das amortizações”, refere Guirungo.

Com um valor de 100 mil meticais, aplicados na carpintaria em 2010, Manuel Guirungo, pagou até à altura em que se publica esta edição, 50 por cento do valor solicitado.

Houve também, em Panda-Mudjeque­ne, cidadãos que tentaram abraçar as áreas de agropecuária, comercialização da casta­nha de caju e ananás, sem sucesso, porque as condições climáticas são inapropriadas para a prática daquelas actividades. O ‘Jor­nal Moçambique’ soube que em Panda­-Mudjequene, 24 mutuários morreram sem saldar as suas contas, junto do FDD.

“Para o caso da castanha de caju, o cli­ma é adequado e Panda-Mudjequene já se destacou na produção da amêndoa, mas a partir da altura que surgiram camiões idos de Nampula para comprar o produto, a produção estancou sem precedentes. Até parece feitiço” , lamentou Armindo Massi­que, Secretário Permanente distrital (SPD).

Um dos desafios de Panda prende-se com a reabilitação e construção, de raiz, de estradas que ligam Panda aos vizinhos Inharrime e Homoíne, lém de projectos para a camada juvenil, que segundo Ma­nuel Guirungo, andam à “deriva”, sem ocu­pação.

O distrito de Panda-Mudjequene rece­beu, desde 2007, altura em que foi definido o distrito como o pólo de desenvolvimen­to, 56. 347.145 meticais, tendo financiando 1.497 projectos, que geraram 5.389 empre­gos. Os mutuários devolveram 4.109. 226, 15 meticais. “O emprego sempre melhora a vida das pessoas. É raro nos dias que cor­rem ver um cidadão que ande descalço, como acontecia há 11 anos. A população compra arroz, farinha, sabão, açúcar, ca­derno, capulana, localmente”, relatou Mas­sique.

 

Piscicultura exige muitos cuidados

 

A virgem márgem esquerda da lagoa Nhancuecué visitada diariamente por Zito Nanombe, que cuida dos seus 500 alvinos (peixinhos), em desenvolvimento num dos tanques piscícolas: bombear água para os tanques, alimentar os alvinos, cuidados que consomem quinzenalmente mil meti­cais, mas à medida que eles crescem, vão “abrindo mais a boca” e subindo as despe­sas. Nos próximos seis meses, o peixe esta­rá à venda nos mercados da região.

“ Meu sonho é substituir a motobomba, pelo abastecimento natural, para reduzir os gastos em combustível, desenvolver uma piscicultura integrada, que significa criar em simultâneo, suínos, aves e pro­duzir hortícolas e cada uma das áreas irá alimentar a outra e assim aproveitar-se integralmente as margens do Nhacuecue. Pretendo também levar a piscicultura as crianças para elas aprenderem actividade em tenra idade”, explicou Zito Nhanombe, que é professor numa escola local.

Na sua opinião, com os ‘Sete Milhões’, muitos moçambicanos vão e estão a rea­lizar os seus sonhos, vão deixando de ser dependentes, aprendendo e aprimorando as técnicas de gestão. Entretanto, no distri­to de Inharrime, onde o JM visitou também projectos de comércio e produção blocos para construção, soube que ao distrito de Inharrime foram alocados 57.7879, 046 Meticais, que financiaram 1.206 projectos. Daquele valor, apenas 5.234.461 Meticais foram reembolsados pelos mutuários.

Daly Kumanda, administrador de Inharrime, diz que dos reembolsos, repli­caram-se 3.080.920, 00 meticais a novos mutuários. “O fundo por si só, já atende novos pedidos, sem depender da aloca­ção central. Isso é crescimento”- observa, acrescentando que até ao fim do terceiro trimestre, o distrito reunir-se-á reunir com o Conselho Consultivo para definir a apli­cação dos restantes 2.153, 341,00 Meticais.

 

Trabalhar para suprir as necessidades

 

De acordo com Daly Kumanda, os 1206 postos de trabalhos criados na sequência dos FDD mudaram a maneira de ser e estar da população, a começar pela geração de renda e comida para as comunidades. ”Nos últimos quatro anos consecutivos, o distri­to de Inharrime conhece uma segurança alimentar. E grande parte dos empregos foram abraçados pela camada jovem e isso reduz a dependência. Os cida­dãos sabem que em cada dia de­vem fazer algo para suprir as suas necessidades, o que é de louvar”, declarou o governante.

A experiência da prática de piscicultura no povoado de Fa­nha-Fanha, posto administrativo de Pembe, a 20 quilómetros da vila de Homoíne foi má. Os 500 alvinos colocados num tanque foram removidos para parte in­certa pelos amigos do alheio. O negócio morreu e nada se sabe sobre a amortização dos valores solicitados ao FDD, como repor­tou César Gomes, líder comuni­tário daquele com 133 casas, com 499 famílias.

Com parte dos 64.875.852,93 meticais, alocados ao distrito de Homoíne de 2007-2014, alguns mutuários da região adquiriram gado bovino e suíno para criação, entretanto, os animais morreram, devido entre outras questões climáticas. Mesmo assim, alguns conseguiram amortizar as dívi­das, outros desapareceram para parte incerta. Maria Maguingue­tane, de Guijá, do povoado de Guijá, posto administrativo de Pembe, com 171 casa e 622 habi­tantes, com o FDL, a mutuária ad­quiriu três cabeças de gado bovi­no, entretanto todas morreram.

“Porque dívida é dívida, aper­tei o cinto e paguei todo o valor e não quero mais. Não tive sorte com a criação do gado bovino, como também tiveram sucesso os que aplicaram o valor na prá­tica de agricultura. Fanha-fanha não é região; propícia para a prá­tica de agricultura”.

Já na vila sede do distrito fun­ciona desde 2011, uma fabriqueta de sabão e óleo, à base de baga­ço de coco, cujas condições vem melhorando a cada dia. As insta­lações de caniço transformaram em cinzas, na sequência de fogo. Perdeu-se boa parte do equi­pamento. Em 2014, a fabriqueta reergueu-se e, actualmente fun­ciona em instalações construídas com material convencional, tem com meios circulantes próprios para a recolha da matéria-prima e comercialização do produto nas comunidades”. Já nem consegui­mos responder a demanda, por­que o nosso sabão é aclamado pela população”, disse Crimildo Rafael, co-proprietário da fabri­queta.

A fabriqueta melhorou as con­dições de trabalho: tem equipa­mento e serve duas refeições aos seus colaboradores. O JM soube também que a fabriqueta bene­ficiou de 167 mil meticais na pri­meira tranche, já devolvidos na sua totalidade e na segunda, lhe foram dados 350 meticais, que estão em processo de amortiza­ção. Está em exercício de liqui­dação da sua dívida, orçada em 78 mil Meticais, Natália Daniel, repórter da Rádio Comunitária de Homoíne, que explora a área de avicultura, desde 2009.

O negócio de frangos esteve parado o ano passado, porque ela sofrera, do seu colaborador, um roubo de 40 mil. “Agora tra­balho sozinha. Tenho dado lições as crianças da Escola Profissional Familiar Rural e Profissional de Homoíne, sobre a criação de fran­gos de corte. Com este apoio do governo a minha vida melhorou significamente”, reconhece Natá­lia.

Os ‘Sete Milhões’ têm um im­pacto muito grande na vida das comunidades, embora subsistam problemas das devoluções. “Tem que se encontrar um outro meca­nismo de persuasão, que obrigue aos mutuários a honrarem com os seus compromissos. Mas no cômputo geral os fundos foram muito bem-vindos, compram-se viaturas, que facilitam a circula­ção de pessoas e bens, constru­ção de casa de alvenaria e já não há registos de problemas de bol­sas de fome, porque as pessoas produzem e vendem a sua pro­dução”, enumerou Ana Adriano, SPD de Homoíne.

 

Preços altos depreciam produtos de Chikungungussa

 

Em Morrumbene, o JM percor­reu de 30 quilómetros, a região de Chikungugussa, localidade de Gotite, onde se localiza a associa­ção Agrária Caminho da Vitória de Chikungugussa, com 14 asso­ciados, dos quais somente três são do sexo masculino, que se dedicam a produção de batata­-reno, hortícolas, numa área de 15 hectares.

Apesar de ser uma zona semi­árida, desenvolve-se a agrope­cuária e, para o efeito conta com três sistemas de abastecimento de água que funcionam a base de energia solar. Mas água, não é entretanto suficiente para a regar 15 hectares de culturas diversas e para o consumo da população local. O milho ainda em processo de maturação secou. Quanto as hortícolas e batata-reno e doce, a produção é alta e vendida na Massinga e Maxixe.

Alcina Siquice, presidente da agremiação cria de forma para­lela frangos de corte, vendidos nos mesmos mercados. Entretan­to, os preços praticados em Chi­kungungussa são exorbitantes, diferentemente dos praticados pela maioria dos camponeses agrope­

que produz nos arredores da vila de Morrumbene. A abundância é justificada pela época de produ­ção, mas que vender produtos na Maxixe, Massinga ou Vilanculo, acarreta de combustíveis e aces­sórios.

“Em Chikungussa, mesmo na machamba, um pé de alface é vendido a 10 meticais, enquan­to na vila sede de Morrumbene, dois ou três pés de alface gran­des estão a 10 meticais. É caro! Por exemplo, a batata-doce está apodrecer”, confirmou Flórida Vi­lanculos.

Um dos grandes recados que a administradora Elça Armando deixa aos produtores em geral é que estes devem se preocupar em recuperar os custos de pro­dução, vendendo a preços acessí­veis, para não perder a produção. “Mas o mercado é livre e não se pode estar arbitrar os preços”, considerou.

Com os ‘Sete Milhões’, Mor­rumbene gerou 2.850 postos de trabalho nas áreas de agricultu­ra, agroprocessamento, pesca artesanal, fabrico de utensílios agrícolas, comércio, entre ou­tras. “Tenho gosto pelo trabalho. Em Morrumbene vimos mutu­ários a serem premiados com equipamento agro-pecuário. As mulheres são cautelosas, mas as ousadas aplicam devidamente os fundos solicitados e são bem-su­cedidas”, reconhece Elça Arman­do, administradora do distrito de Morrumbene.