Com os “sete milhões” há muito empreendorismo e a vida melhorou
É um facto que o Fundo de Desenvolvimento Distrital (FDD), vulgo ‘Sete Milhões’ mudou, para o melhor, a vida de muitos moçambicanos É notória a preocupação dos cidadãos de procurar fazer algo e, nisso há ousadia: abertura de bombas de combustível e fabriquetas, a prática da piscicultura, o aproveitamento das zonas baixas para a produção de hortícolas, batata-reno, entre outras actividades de geração de riqueza e bem-estar social. Todavia, é crucial reforçar os mecanismos de reembolso do valor, porque mutuários há que desaparecem ou morrem sem repor os empréstimos. Por exemplo, de 2007 a 2014, foram alocados pouco mais de 178 milhões de meticais, aos distritos de Panda, Homoíne e Inharrime, na província de Inhambane, cujo nível de reembolso foi cerca de 16 milhões de meticais.
Por: Brígida da Cruz Henrique
Há muita gente ousada e predisposta a melhorar as suas condições de vida e, por via disso, desenvolver Moçambique. O ‘Jornal Moçambique’ interagiu com os mutuários dos distritos de Homoíne, Panda, Inharrime e Morrumbene, naquela província do sul, onde os beneficiários dos ‘Sete Milhões’, tudo fazem para suprir as necessidades imprescindíveis dos cidadãos, colocando à disponibilidade produtos alimentares, utensílios de produção, combustível, entre outras iniciativas.
Abílio Nhambau, do bairro Jacubecua, em Panda-Mudjequene, é mutuário do FDD desde 2011. Com 100 mil meticais candidatou-se a criador de gado bovino e fornecedor de combustível ao distrito. Geriu devidamente os fundos e, em 2012, amortizou a dívida. Motivado com o negócio, em 2013 solicitou mais 300 mil meticais, para investir na construção civil e produção de blocos.
“Meu sonho é ter uma gasolineira abastecida a partir da fonte (PETROMOC-sede)”, explicou Nhambau, detalhando que os ‘Sete Milhões’ melhoraram as condições da sua família. “Já comprei um mini-bus, que faz ‘chapa’ Panda-Inhambane-Maxixe; mensalmente forneço seis mil litros de combustível ao distrito e quero aproveitar a oportunidade para agradecer ao Presidente da República, Armando Guebuza, pela iniciativa e apelar Filipe Nyusi, o candidato às eleições presidenciais de 2014, que em Inhambane é tratado carinhosamente por ‘nhoshi’ ou ‘novidade’, continue a olhar para o distrito como o pólo de desenvolvimento”.
Em 2009, Beatriz Vilanculos recebeu doFundo de Desenvolvimento Distrital, 45 mil meticais, para a prática de comércio. Amortizou a dívida a 100 por cento. Diz ter-lhe sido difícil gerir os fundos, mas “apertei o cinto e consegui devolver 47 mil meticais. Mal recebi os fundos investi no negócio, vendendo produtos de primeira necessidade e ia pagando os impostos e a renda, pois ainda não tinha minha mini-loja”.
A empreendedora de Panda-Mudjequene já construiu uma mini-loja, cresceram as receitas, por isso, paga regularmente as propinas dos filhos, que têm aulas na cidade de Inhambane, ao mesmo tempo que está a construir uma casa usando material convencional.
Dado o acesso à energia eléctrica de Cahora Bassa, Beatriz Vilanculo, projecta alargar o seu negócio, fornecendo peixe, frango, bebidas e toda a gama de produtos que exigem conservação no sistema de frio.
Gestão dos ‘Sete Milhões’ exige disciplina
Além da poupança, Beatriz Vilanculo lucra 15 mil meticais, que garantem a reposição dos produtos na sua mini-loja. “Os ‘Sete Milhões’ melhoraram a vida de muitos moçambicanos, e eu sou um deles. Sofri muito, sem ocupação, porque viemos transferidos de Maputo. Meu marido é funcionário do Estado e sobrevivíamos de salário, que pouco chegava. A prática de agricultura em Panda é inconsistente, devido ao clima árido. Mas foi preciso muita disciplina na gestão de fundos, porque o mínimo deslize, o dinheiro voa e a reposição, é dolorosa”, alerta Beatriz Vilanculo.
Por seu turno, Manuel Guirungo queixa-se da falta de madeira para a prática de marcenaria, a ausência em Panda, de um banco comercial. “Meus potenciais clientes compram mobiliário na cidade da Maxixe, quando vão levantar os seus ordenados mensais, via banco. Com um banco de crédito, o negócio iria melhorar substancialmente, como cresceria o caudal de negócios e das amortizações”, refere Guirungo.
Com um valor de 100 mil meticais, aplicados na carpintaria em 2010, Manuel Guirungo, pagou até à altura em que se publica esta edição, 50 por cento do valor solicitado.
Houve também, em Panda-Mudjequene, cidadãos que tentaram abraçar as áreas de agropecuária, comercialização da castanha de caju e ananás, sem sucesso, porque as condições climáticas são inapropriadas para a prática daquelas actividades. O ‘Jornal Moçambique’ soube que em Panda-Mudjequene, 24 mutuários morreram sem saldar as suas contas, junto do FDD.
“Para o caso da castanha de caju, o clima é adequado e Panda-Mudjequene já se destacou na produção da amêndoa, mas a partir da altura que surgiram camiões idos de Nampula para comprar o produto, a produção estancou sem precedentes. Até parece feitiço” , lamentou Armindo Massique, Secretário Permanente distrital (SPD).
Um dos desafios de Panda prende-se com a reabilitação e construção, de raiz, de estradas que ligam Panda aos vizinhos Inharrime e Homoíne, lém de projectos para a camada juvenil, que segundo Manuel Guirungo, andam à “deriva”, sem ocupação.
O distrito de Panda-Mudjequene recebeu, desde 2007, altura em que foi definido o distrito como o pólo de desenvolvimento, 56. 347.145 meticais, tendo financiando 1.497 projectos, que geraram 5.389 empregos. Os mutuários devolveram 4.109. 226, 15 meticais. “O emprego sempre melhora a vida das pessoas. É raro nos dias que correm ver um cidadão que ande descalço, como acontecia há 11 anos. A população compra arroz, farinha, sabão, açúcar, caderno, capulana, localmente”, relatou Massique.
Piscicultura exige muitos cuidados
A virgem márgem esquerda da lagoa Nhancuecué visitada diariamente por Zito Nanombe, que cuida dos seus 500 alvinos (peixinhos), em desenvolvimento num dos tanques piscícolas: bombear água para os tanques, alimentar os alvinos, cuidados que consomem quinzenalmente mil meticais, mas à medida que eles crescem, vão “abrindo mais a boca” e subindo as despesas. Nos próximos seis meses, o peixe estará à venda nos mercados da região.
“ Meu sonho é substituir a motobomba, pelo abastecimento natural, para reduzir os gastos em combustível, desenvolver uma piscicultura integrada, que significa criar em simultâneo, suínos, aves e produzir hortícolas e cada uma das áreas irá alimentar a outra e assim aproveitar-se integralmente as margens do Nhacuecue. Pretendo também levar a piscicultura as crianças para elas aprenderem actividade em tenra idade”, explicou Zito Nhanombe, que é professor numa escola local.
Na sua opinião, com os ‘Sete Milhões’, muitos moçambicanos vão e estão a realizar os seus sonhos, vão deixando de ser dependentes, aprendendo e aprimorando as técnicas de gestão. Entretanto, no distrito de Inharrime, onde o JM visitou também projectos de comércio e produção blocos para construção, soube que ao distrito de Inharrime foram alocados 57.7879, 046 Meticais, que financiaram 1.206 projectos. Daquele valor, apenas 5.234.461 Meticais foram reembolsados pelos mutuários.
Daly Kumanda, administrador de Inharrime, diz que dos reembolsos, replicaram-se 3.080.920, 00 meticais a novos mutuários. “O fundo por si só, já atende novos pedidos, sem depender da alocação central. Isso é crescimento”- observa, acrescentando que até ao fim do terceiro trimestre, o distrito reunir-se-á reunir com o Conselho Consultivo para definir a aplicação dos restantes 2.153, 341,00 Meticais.
Trabalhar para suprir as necessidades
De acordo com Daly Kumanda, os 1206 postos de trabalhos criados na sequência dos FDD mudaram a maneira de ser e estar da população, a começar pela geração de renda e comida para as comunidades. ”Nos últimos quatro anos consecutivos, o distrito de Inharrime conhece uma segurança alimentar. E grande parte dos empregos foram abraçados pela camada jovem e isso reduz a dependência. Os cidadãos sabem que em cada dia devem fazer algo para suprir as suas necessidades, o que é de louvar”, declarou o governante.
A experiência da prática de piscicultura no povoado de Fanha-Fanha, posto administrativo de Pembe, a 20 quilómetros da vila de Homoíne foi má. Os 500 alvinos colocados num tanque foram removidos para parte incerta pelos amigos do alheio. O negócio morreu e nada se sabe sobre a amortização dos valores solicitados ao FDD, como reportou César Gomes, líder comunitário daquele com 133 casas, com 499 famílias.
Com parte dos 64.875.852,93 meticais, alocados ao distrito de Homoíne de 2007-2014, alguns mutuários da região adquiriram gado bovino e suíno para criação, entretanto, os animais morreram, devido entre outras questões climáticas. Mesmo assim, alguns conseguiram amortizar as dívidas, outros desapareceram para parte incerta. Maria Maguinguetane, de Guijá, do povoado de Guijá, posto administrativo de Pembe, com 171 casa e 622 habitantes, com o FDL, a mutuária adquiriu três cabeças de gado bovino, entretanto todas morreram.
“Porque dívida é dívida, apertei o cinto e paguei todo o valor e não quero mais. Não tive sorte com a criação do gado bovino, como também tiveram sucesso os que aplicaram o valor na prática de agricultura. Fanha-fanha não é região; propícia para a prática de agricultura”.
Já na vila sede do distrito funciona desde 2011, uma fabriqueta de sabão e óleo, à base de bagaço de coco, cujas condições vem melhorando a cada dia. As instalações de caniço transformaram em cinzas, na sequência de fogo. Perdeu-se boa parte do equipamento. Em 2014, a fabriqueta reergueu-se e, actualmente funciona em instalações construídas com material convencional, tem com meios circulantes próprios para a recolha da matéria-prima e comercialização do produto nas comunidades”. Já nem conseguimos responder a demanda, porque o nosso sabão é aclamado pela população”, disse Crimildo Rafael, co-proprietário da fabriqueta.
A fabriqueta melhorou as condições de trabalho: tem equipamento e serve duas refeições aos seus colaboradores. O JM soube também que a fabriqueta beneficiou de 167 mil meticais na primeira tranche, já devolvidos na sua totalidade e na segunda, lhe foram dados 350 meticais, que estão em processo de amortização. Está em exercício de liquidação da sua dívida, orçada em 78 mil Meticais, Natália Daniel, repórter da Rádio Comunitária de Homoíne, que explora a área de avicultura, desde 2009.
O negócio de frangos esteve parado o ano passado, porque ela sofrera, do seu colaborador, um roubo de 40 mil. “Agora trabalho sozinha. Tenho dado lições as crianças da Escola Profissional Familiar Rural e Profissional de Homoíne, sobre a criação de frangos de corte. Com este apoio do governo a minha vida melhorou significamente”, reconhece Natália.
Os ‘Sete Milhões’ têm um impacto muito grande na vida das comunidades, embora subsistam problemas das devoluções. “Tem que se encontrar um outro mecanismo de persuasão, que obrigue aos mutuários a honrarem com os seus compromissos. Mas no cômputo geral os fundos foram muito bem-vindos, compram-se viaturas, que facilitam a circulação de pessoas e bens, construção de casa de alvenaria e já não há registos de problemas de bolsas de fome, porque as pessoas produzem e vendem a sua produção”, enumerou Ana Adriano, SPD de Homoíne.
Preços altos depreciam produtos de Chikungungussa
Em Morrumbene, o JM percorreu de 30 quilómetros, a região de Chikungugussa, localidade de Gotite, onde se localiza a associação Agrária Caminho da Vitória de Chikungugussa, com 14 associados, dos quais somente três são do sexo masculino, que se dedicam a produção de batata-reno, hortícolas, numa área de 15 hectares.
Apesar de ser uma zona semiárida, desenvolve-se a agropecuária e, para o efeito conta com três sistemas de abastecimento de água que funcionam a base de energia solar. Mas água, não é entretanto suficiente para a regar 15 hectares de culturas diversas e para o consumo da população local. O milho ainda em processo de maturação secou. Quanto as hortícolas e batata-reno e doce, a produção é alta e vendida na Massinga e Maxixe.
Alcina Siquice, presidente da agremiação cria de forma paralela frangos de corte, vendidos nos mesmos mercados. Entretanto, os preços praticados em Chikungungussa são exorbitantes, diferentemente dos praticados pela maioria dos camponeses agrope
que produz nos arredores da vila de Morrumbene. A abundância é justificada pela época de produção, mas que vender produtos na Maxixe, Massinga ou Vilanculo, acarreta de combustíveis e acessórios.
“Em Chikungussa, mesmo na machamba, um pé de alface é vendido a 10 meticais, enquanto na vila sede de Morrumbene, dois ou três pés de alface grandes estão a 10 meticais. É caro! Por exemplo, a batata-doce está apodrecer”, confirmou Flórida Vilanculos.
Um dos grandes recados que a administradora Elça Armando deixa aos produtores em geral é que estes devem se preocupar em recuperar os custos de produção, vendendo a preços acessíveis, para não perder a produção. “Mas o mercado é livre e não se pode estar arbitrar os preços”, considerou.
Com os ‘Sete Milhões’, Morrumbene gerou 2.850 postos de trabalho nas áreas de agricultura, agroprocessamento, pesca artesanal, fabrico de utensílios agrícolas, comércio, entre outras. “Tenho gosto pelo trabalho. Em Morrumbene vimos mutuários a serem premiados com equipamento agro-pecuário. As mulheres são cautelosas, mas as ousadas aplicam devidamente os fundos solicitados e são bem-sucedidas”, reconhece Elça Armando, administradora do distrito de Morrumbene.